quinta-feira, 14 de junho de 2007

SIGMA

A história da “melhor banda de rock do mundo”. Saída dos porões de Townstown, o épico da SIGMA...

Sábado, 07 de julho de 1997. Faz frio no porto de Townstown. O jovem Joe Parking, filho de um antigo cantor de Jazz dos anos 70, Michael Parking, perambula pela cidade, sem rumo, pensando numa vida glamourosa como guitarrista de uma grande banda de rock. Segue sonhando alto: Fama, dinheiro, mulheres, grandes tournées, drogas em excesso, adulação, excitação, discos de grandes vendagens e músicas influenciando desde o ocidente capitalizado até o mais antigo e tradicional rincão do oriente. Estava tão desligado em pensamentos que não percebeu um poste á sua frente, muito embora tenha conseguido parar antes da colisão, e ver um cartaz apregado que dizia em letras garrafais: “Precisa-se de músicos para uma banda. Procurar Mike Henderson. Telefone: 0059 0059”. Incrível! Pensou Joe. A oportunidade chama. Correu até o telefone público mais próximo. Pôs a mão no bolso da calça jeans surrada e encontrou a ficha que havia guardado para ligar para uma tia do Maranhão, mas agora, diante de tal oportunidade, não ia querer perder seu tempo falando de como estavam os gatos de sua tia, e sim da grande chance de tocar numa banda de verdade. Discou o número e uma voz meio aguda e forte atendeu do outro lado da linha: - Alô. O que o senhor deseja? Bom, eu li um anúncio de cartaz num poste sobre a formação de uma banda, e como sou guitarrista, resolvi ligar e responder que estou a fim de entrar para a mesma. A voz então disse a Joe: - Pode vir a minha casa e conversaremos melhor. Meu endereço é o seguinte, Avenida Raul Seixas, 1973, bairro Liverpool. Certo. Disse Joe, com um ar de satisfação e os olhos brilhantes. Irei até lá agora. Tudo bem. Respondeu-lhe a voz. Joe partiu em disparada. Não conseguia acreditar que todos os seus sonhos poderiam estar tão próximos. Tocar numa banda? Nem o mais otimista poderia prever que viria de forma tão prosaica. Mas, as coisas também acontecem ao mero acaso. Ou assim não teríamos tantas bandas formadas pelo cara que indica um vizinho da rua ou um colega de escola. E então, numa apresentação formal, acabam por se conhecer e formar uma banda. Neste momento, Joe começava a traçar seus planos: Tocariam clássicos do rock, inicialmente fazendo covers, depois comporiam repertório próprio e então gravariam um cd demo, divulgariam com todo esforço, chegariam ás rádios locais, chamariam a atenção de um empresário, este os levaria a uma gravadora, eles gravariam um cd com 12 ou 14 faixas, estourariam, fariam shows em todos os programas, lotariam casas de espetáculo, tocariam para mais de 80 mil pessoas, estourariam em vendas, seriam ídolos, ícones da música e assim, após uns 10 anos se separariam e com mais uns 15 ou 20 anos voltariam para fechar o ciclo, por dinheiro e um pouco mais de publicidade, o golpe perfeito. Ia tão rápido, tanto em pensamentos, quando, de repente, ouviu o soar de uma buzina: - Fommmmmmm!!!!!!!! Tomou um susto, e quando olhou pro lado, um fusca desgovernado estava parado á sua frente, á centímetros da sua perna, e um jovem ruivo estava ao volante, berrava: - Você é cego! Não olha por onde anda não? Desculpe, disse Joe. E que eu estava indo á casa de um músico que mandou um anúncio para formar uma banda. Sou guitarrista sabe, e gostaria de entrar para a banda. Sério? Disse-lhe o Ruivo. Sério. Respondeu Joe. Cara, eu sou baixista, e li este anúncio. Não é neste endereço? Mostra a Joe o endereço de um certo Mike Henderson. Exato. Afirma Joe. Ora, entre aqui e vamos. De carro chegaremos mais rápido. Joe entra no Fusca 69 e vai com o principiante de baixista a casa de Mike. No meio do caminho ambos conversam. Meu nome é Albert Pepper. Chamam-me de Peep. Eu toco baixo a uns dois anos. E você? Bem, meu nome é Joe Parking. Sou guitarrista. Meu pai tocava na Parking-Scooter Jazz Band, juntamente com Robert Scooter em meados da década de 70. Puxa, você é filho do Michael Parking? Que honra cara. Eu tenho todos os discos dele. A banda do seu pai foi inovadora. Era uma big band com 26 músicos. Tinha desde saxofonistas, gaitistas, tropetistas, trombonistas, pianistas, guitarristas, baixistas, violinistas, dois bateristas e até um tocador de fagote. Eles misturavam de tudo. Elementos do blues, rock, vaudeville, progressivo e até música clássica. Muito bons! Não era pra tanto, respondeu meio acabrunhado o Joe. Que é isso cara! Eles inovaram! Você já ouviu o disco deles de 1977, “In the Miracle World”, uma ópera Jazz, sobre um cara que foi abandonado no leito do rio Delta e foi criado por um casal local, recebeu educação musical informal e lançou um disco com o Robert Johnson quando este o encontrou num bar por acaso e gravaram 15 canções de blues? Cara é um marco do rock! Mesmo sendo um álbum de Jazz! Abusaram do naipe de metais. Timbres de guitarra bem secos, solo digitado, bateria frouxa, mas firme, vocais dobrados, isso sem falar no belo uso de teclados ao invés de pianos, dando um ar diferente a música. Isso tudo aliado ao belo trabalho no violão de Bob Windson, o personagem do álbum, em cima de sobreposições de gravações do Robert Jonhson. Fantástico! Realmente, ressalta Joe, é um bom disco, mas acho-o meio monótono, faltou pegada musical. Cara você é muito exigente. Mas, olha só, estamos chegando. Avenida Raul seixas, 1973. É aqui. Descem do carro, quando dão de cara com rapaz alto, magro, quase esquálido, com duas baquetas na mão e uma camiseta branca, com um desenho em nanquim do baterista do Police, Steve Coopeland. Olá, dizem Joe e Albert. Olá. Como se chama? Pergunta Joe. Meu nome é Peter. Peter Veiland. Mas me chamam de Peter Veil. Legal. Eu me chamo Joe. Joe Parkin e esse é Albert Pepper. Peep. Vocês leram o anúncio não foi? Diz Peter. Sim. Quem toca a campainha? Eu toco diz Albert. De repente, surge na porta um cara de estatura média, cabelos loiros e barba cerrada. Olá! Entrem! Vocês leram o anúncio que espalhei pela cidade. Os três entram e ficam espantados. Por toda casa há posters espalhados pela casa: The Doors, The Who, Led Zeppelin, Frank Zappa, Stones, The Sttoges, Rush, Cream, Beatles, AC/DC, Sonic Youth e outras centenas de Banda do Rock Roll de todos os tempos. Instrumentos tinham tantos que a casa parecia uma loja: Guitarra, Contra baixo, um naipe de metal de fazer inveja a qualquer big band, violões, violinos, violoncelos, bateria, percussão e tantos outros, tão inúmeros quanto exóticos. Eram muitíssimos. Quase que não se andava. Subam. Disse o dono da casa. Foram por um lance de escada e deram num pequeno cômodo. Um estúdio de 64 canais, com um Pc de última geração, com paredes vedadas por uma fina camada de maderite, mesa de som, caixas por todos os lados, assim como microfones para a captação de som ambiente, bateria montada, guitarra, baixo, um teclado Rhodes além de alguns instrumentos de sopro e cordas para gravações iniciais. Incrível! Afirmou Joe espantado. Realmente, realçou Peep. Fantástico! Emendou Peter. Vendo o espanto dos três caras, o anfitrião foi logo dizendo: Meu nome é Scott. Scoot Whalley. Toco diversos instrumentos e resolvi montar uma banda com influencias que vão do Jazz á música indiana, passando pelo Blues, Rockabilly, Heavy Metal, Progressivo, Trash metal, ópera, Vaudeville, skyflle, baladas e tudo o quanto à música já produziu. Para criar, com todos estes elementos o maior disco de música popular de toda a história. Uau! Falam os outros três caras ao mesmo tempo.

Continua...

Um dia na vida (Uma adptação livre de A Day in the Life)

Manhã de Domingo. Eberhard acorda e vai até a esquina comprar o seu jornal, como o faz corriqueiramente. O dia está ensolarado, fazendo aproximadamente uns quarenta e dois graus de temperatura na sombra. O suor escorre pela sua testa alva e respinga na sua barba densa. Caminha a passos calmos, com seu hobby de chambre, e sandálias de couro. Ao chegar à banca de revistas, compra a sua tão aguardada edição do Daily Mirror. No caminho de volta, começa a ler uma ou outra notícia; e uma em especial o chama atenção: “Visite os picos de Backburn, em Lancanshire. Preços promocionais!” Ao ler, comenta com os seus botões:

Eberhard: - Isto é coisa para burocratas! Onde já se viu! Visitar os Picos de Blackburn em Lacanshire. É uma fortuna! Imagine: Passagem, hospedagem, diárias, bebida, alimentação, fora á diversão noturna. Indubitavelmente isso não é pra mim. Eu sou um funcionário do governo aposentado. E com esta recessão, não dá par ir de trem de Liverpool a Manchester.

Virando a página, já na escadinha de acesso a casa, observa mais uma noticia, dessa vez um pouco mais alarmante: “Homem é decapitado após acidente automobilístico”. Lê com sofreguidão, e após uma pausa para reflexão, pois está agora sentado na poltrona, ele pensa consigo mesmo:


Eberhard: - Hum... É a vida. Breve e imprevisível. Um jovem. Mas, o que podemos fazer? Acidentes acontecem. Uma fatalidade! Que poderia imaginar? São fatores externos, inexplicáveis. Temos de convir que nos sobra tão somente a dedução: - Se ele estivesse em alta velocidade? Ou quem sabe, não se pode afirmar, estivesse bêbado? Com tanta bebida vendida por aí deliberadamente... Porem vamos supor que ele tivesse dormido ao volante? Talvez fosse famoso e um paparazzi o atrapalhasse na hora. Bom, nunca saberemos. São hipóteses prováveis ou não. Quem sabe? Talvez um atentado ou uma conspiração. É melhor esquecer. Deixe-me folhear outras páginas.



Ao virar a pagina, Eberhard dá de cara com mais uma notícia: “A guerra continua. Ingleses enviam soldados e armas para o Vietnã”. Indignado, Eberhard, brada bem alto:

Eberhard: - Burocratas! Salafrários! Larápios! Bando de Monarcas absolutistas! Vão gastar com a guerra! E eu com este salário de fome, morando num cubículo fétido; e os calhordas, só porque tem seus MBEs, e puxam o saco da rainha, ficam expondo o pais a guerra. E os famintos? E os doentes? E os desvalidos? Desamparados, desempregados, ladrões, putas e tantos outros? Que falsidade de democracia é esta? Ela é invalida nessa ilha. Estamos no fundo do poço! E os soldados? O que eles tem a ver com isso? E Suicídio! Partir para lutar com os Vietcongues? Loucura! Onde nos estamos! E a rainha?!

Após o desabafo, pensa melhor e divaga:

- Bom, a rainha não resolve nada! Só serve como um fantoche na Tv, representando o país nas viagens internacionais com sua coroa cravejada de diamantes. Bela porcaria! Se for assim, até eu! Por causa disso que este país não progride! Não vai á frente! Alias vai. Mas vai a guerra! Estamos fudidos!

Enquanto isso, num surto pacífico, Põe na sua vitrola o lp Magical Mistery Tour, dos Beatles. Mais precisamente, as faixas número um e numero onze, primeira e última, coincidentemente do disco, denominadas Magical Mistery Tour e All you need is love, com uma particularidade, sempre retornando aos versos: “The Magical Mistery Tour is waiting to take you away,(...) is dying to take you away” e “All you need is love, love, love love...” e ao passo que ouvia tais versos lamentava:

Eberhard: - É isso o que eles fazem com os nossos filhos. Leva-os embora, enquanto precisamos simplesmente de amor. Um absurdo (suspirando).

Completamente revoltado, Eberhard vai ao armário, pega uma garrafa de Scotch 12 anos, toma doses ininterruptas, uma atrás da outra, volta ao armário, pega uma seringa e injeta LSD puro nas veias, caindo desacordado em seguida.


Eberhard chega no céu. Ou talvez ele supõe ser um céu. Caminha entre as nuvens, e é recebido pelo homem de plasticina. Ele o convida para um passeio no rio. Eberhard entra num barco de madeira e inicia a navegação, passando em meio a tangerinas e marmelos, quando, de repente, ao longe, ouve uma mulher de caleidoscópio, chamá-lo lentamente:

Mulher: - Eberhard... venha na nossa mágica e misteriosa viagem... Seja bem vindo... venha... venha... venha... A mulher tinha olhos avermelhados como o sol e vivia no céu dos diamantes. Chamavam-na de Lucy.

Continuando a viagem, Eberhard desceu por uma montanha e avistou pedras em forma de cavalos e pessoas comendo Marshmallow. Remou um pouco mais, e viu um campo com flores gigantes, que cresciam vertiginosamente, chegando a alturas incríveis. Vendo aquilo, Eberhard não conseguia sequer falar. Espantado apenas dizia:

Eberhard: Incrível! Fantástico! Maravilhoso!

Mais adiante, teve que alterar um pouco o percurso, para desviar o barco de pequenos táxis de jornal. Passados mais alguns minutos, enfim chega á estação. Desceu e despediu-se do homem de plasticina. Então Lucy, a garota do caleidoscópio, chamou-o lentamente, novamente: - Volte para o seu mundo...

De volta ao planeta, Eberhard recorda a consciência. Passava das onze da noite. Ele levantou-se, com uma dor tremenda no corpo; foi até o banheiro, ainda atordoado, molhou o rosto com água fria e arregalou bem os olhos. Pôs a língua para fora e aparou o próprio pulso. E quase sem forças balbuciou:

Eberhard: - O que houve? Onde estive? Será que estou ficando louco?

Aos poucos o choque inicial foi passando, e ao voltar à sala, encontrou a seringa no chão, a garrafa de Scotch sob a mesa, e o jornal no piso da sala todo ensopado. Ficou extasiado por alguns minutos, depois foi dormir.


Eberhard acordou. Eram oito horas. Estava atrasado pro trabalho como voluntário no museu. Levantou, pulou da cama, arrastou o pente pelos cabelos. Bebeu um copo de leite apressadamente. Pôs um maço de cigarros no smoking, pegou seu chapéu, o guarda chuva e saiu rapidamente. Ao passar em frente á velha banca de revistas, viu, de relance a seguinte notícia, quando ia para o ponto de ônibus: - “Homem sortudo é preso!” Parou um pouco. Mudou de cor. Ficou pálido. Começou a suar e tremer. Seria coincidência? Jornal, notícias? Iria começar tudo de novo? Ou seria só mais um sonho? Não sabia. Inesperadamente, um transeunte que estava a esperar o mesmo ônibus de Eberhard o pergunta:

Transeunte: - O senhor está bem?

E Eberhard responde: - Sim. Estou. Não foi nada.

E o transeunte: - Pois bem, o ônibus que o senhor aguarda chegou.

Assim, Eberhard entrou no ônibus e seguiu viagem. Sem entender bem o que ocorrera. Teria ele sonhado, ou estava louco? Tudo tinha voltado ao normal? Não sabia, muito menos compreendia. Partia para mais um dia na vida...

FIM