segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

FÁBULAS DA BOLA...

Toquinho um dia escreveu: “Ser corintiano é ir além/De ser ou não ser o primeiro/Ser corintiano é ser também/Um pouco mais brasileiro”. Pois bem, não vou falar do que é ser corintiano, afinal não torço pelo Corinthians. Mas, é um singelo texto para lembrar da figura do maior “brasileiro” corintiano. Até no nome ele carregava a “marca”. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. De futebol grandioso como seu nome e genial como seu toque de calcanhar. Da sua visão de jogo apurada, de seus dribles secos e chutes potentes e certeiros. Do braço erguido e porte meio frio, na comemoração dos gols que marcava. Futebol pra ele não era tática nem condicionamento físico e sim, técnica e fábula. O improvável, o impossível e inimaginável. Não era atleta. Não treinava com afinco, não se dedicava tanto, não podia ser bem visto por suas convicções seguras acerca da política e consciência social dentro do seu país.
Devia ser por carregar, ou ostentar como poucos o nome de um filósofo grego. Por isso, sentiu-se em casa num clube que se denomina “República”. Republica Democrática do Corinthians. Democrático graças a ele e outros craques do time dos anos 80, que geraram o movimento “Democracia Corintiana” que pregou liberdades individuais dos atletas e maior participação nas decisões políticas do clube. Um craque além dos campos. Um gênio da raça. O toque de classe que derrubou o marasmo do futebol feio de resultados. Se não deu resultado, não foi culpa dele, nem da seleção brasileira de 1982. Outro marco na sua vida. E se não venceu tantos títulos importantes, apenas três paulistas em 1979, 1982 e 1983, isso não tira o mérito da sua importância no futebol. Afinal, craques que ostentam grandes títulos nem sempre se destacam fora das quatro linhas. E o “Doutor” era diferencial. Dotado de conhecimento acima da média dos jogadores de futebol, assinou um contrato com um grande clube, depois de forma-se em Medicina. E não é pra desmerecer nenhum jogador. As oportunidades aparecem e somente os privilegiados sabem aproveitá-la de maneira proveitosa.
No mais, pra exemplificar quem foi Sócrates, deixo um relato da semifinal do campeonato paulista de 1983. Corinthians e Palmeiras duelaram por uma vaga na final. Após um zero a zero no primeiro jogo, caminhavam pra mais um empate. Antes do jogo o ônibus do Corinthians quebrou e os jogadores tiveram que ir correndo ao Morumbi. Alguns metros adiante. O Doutor, boêmio e fumante correu junto com seus companheiros. Trocou-se e entrou em campo. Passou 89 minutos parado, sem praticamente tocar na bola. No minuto 90, recebeu uma bola na entrada da área deu um simples giro de corpo sobre seu marcador e bateu no cantinho. Um único lance. Um drible desconcertante, o giro sobre o marcador. Gol! 1 a 0! Corinthians na final. Depois seria Bicampeão Paulista! E assim era Sócrates. Futebol simples, belo e eficiente como deve ser. Vai fazer muita falta. Que os deuses do futebol o abençoem Doutor! Pois o futebol é uma fábula da vida e você foi um dos seus maiores representantes. Uma pena...


Sócrates (1954-2011)

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