terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Olhando através de você

Era um dia de sol. Ele caminhava em dúvida sobre o que dizer para ela. Os dedos se entrelaçavam enquanto caminhava. Os passos eram lentos e o pensamento ia longe. De tão longínquo, não observava nada ao seu redor. Estava apreensivo. Há alguns dias que não se viam, e a hostilidade era iminente pra ele. Depois do que aconteceu o que esperar? Mas tinha uma carta na manga. Não poderia desperdiçar a chance de amá-la. Que mal pode existir no amor? O desprezo, ele pensava. Muito embora não tivesse nada a perder. Tudo na vida existe o risco. A cada passo, a proximidade entre ambos era inevitável. E seu coração batia aceleradamente, descompassado, firme, tenso e pulsante. Aproximou-se dela e disse:
- Como vai?
- Vou bem, disse-lhe. E você?
- Vou indo...
- Que bom
- Eu queria...
- Desculpa, tenho que ir agora. Tchau!
Sentiu-se diminuído. Não teve a chance nem de dizer o que sentia. E ficava pensando em si mesmo. Pra onde ela foi? Gostaria de tê-la conhecido melhor. Ela estava diferente. Podia ver a mudança através dela. Era a mesma, mas não como ele conheceu. Confiante, nem de longe lembrava a moça amedrontada que conhecera há uns meses. Se ela era confiante, e cheia de si, estava agora, segura. Não tinha mais o olhar triste de outrora, nem sofria com os pormenores da vida. Aprendera um bocado com o tempo. Sua voz antes tranqüila e suave, entoando cantos primos, era agora firme e num tom mais grave, como se a angustia fizesse abrigo naquele coração sofrido e amargurado. Sofrera demais. E a vida apontara-lhe outras direções. Ser livre é era o necessário agora. Ficar preso a algo tedioso é péssimo para a natureza humana. Mesmo assim ele não entendia porque fora tratado daquela forma tão fria. Porem, o amor tem por hábito, desaparecer. E se antes ela pensava nela de uma maneira dócil e tranqüila, não havia mais motivos para tanto zelo e preocupação. Não valia mais a pena. As obrigações de ceder certas ações em troca de algo vazio, não são primordiais em nada.
Saiu então de cabeça baixa, com uma nuvem negra pairando a sua mente. A sensação de perda era cruel demais para suportar. Nem consegui pensar direito. Sentou-se numa cadeira próxima e ficou fitando-a, ao longe, com os olhos marejados e, pensando em como poderia ter sido diferente se o coração soubesse amar...

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