sábado, 29 de janeiro de 2011

Sem Culpa...

Gostava muito daquela garota ruiva, de cara sardenta. Ela devia ter uns cinco anos a mais que ele. Mas não era empecilho. Afinal, eram vizinhos há uns dois anos, e ele tentava com alguns acenos, em vão, obter a atenção dela. Recebendo apenas alguns sorrisos amarelos em troca, como se reprimisse tal atitude, vindo então de um garoto de pouco mais de onze anos. Um guri. Ela pensava. Passados mais alguns anos, e um pouco maior, mais velho e confiante, sabia que poderia conquistá-la com alguns lugares comuns do amor. Um bilhetinho, uma caixa de bombons, um buquê de flores; como se fosse possível para relacionamentos tornarem-se duradouros.
Teve um estalo. Que tal mandar um e-mail? Pôs palavras suplicantes, abrindo o coração, como a uma janela aberta vendo os raios de sol adentrar dentro da sala. Ou então, mostrando a visão das belas colinas de uma cidade pequena. Recebeu uma resposta tão rude, que ficou uns dois dias pensando no que fazer. Então, depois de dois dias desapontado, elaborou uma resposta á altura de maledicência em torno da sua puberdade e de ser infantil demais pra ela. Começou a digitar em tom resignado:
- “Sem culpa, por eu ficar em seu caminho, enquanto você tenta roubar o dia. Eu não quero o resto da sua atenção, muito menos roubar seu colete. Não sou tão inteligente, mas apenas gostaria de começar a conhecê-la, e não fico triste por você ser mais velha que eu. Sei que você me ignora, mas estou apenas fazendo a minha parte. Não mandei um e-mail para me entregar ou querer seu coração logo de cara. Você me destruiu por dentro, mas repito, sem culpa. Queria apenas começar, mas você me vê como um maluco. Dessa forma, deixa estar, vou continuar freqüentando meu cinema e vendo minha TV em paz, ler meus livros e ouvir minha musicas. Não vou te incomodar mais. Sinto muito por você ter se enganado a meu respeito. Sinceras desculpas, e, sem culpa”.
Ela recebeu a resposta e leu. Sentiu um arrepio estranho. Como um garoto como aquele poderia ser tão maduro assim, a ponto de responder uma “ofensa” á altura? Não teve reações de pena nem rudeza. Apenas ficara pasmada com o que lera. Era um “garoto” interessante, todavia, não apercebera da suas qualidades antes. Simplesmente pelo fato de ser um garotinho cinco anos mais jovem do que ela. E lembrou-se dos acenos puros que ela dava pra ela, acompanhados de um sorriso verdadeiro de “criança”. E como tal, eram verdadeiramente puros e sinceros. Era apenas gentileza. E fora interpretado com um petulante moleque travesso que tinha uma cara de pau de cantar moças mais velhas. Como pudera pensar nisso?
Agora, era tarde. Ficou mal durante alguns dias, mas teve de agüentar as conseqüências do que pensara a respeito. E o pior. O garotinho tinha arrumado uma namoradinha da sua idade. Ai sentiu de fato o baque. Ás vezes nem tudo que se pensa é de fato o que corresponde à verdade. E perdemos assim, diversas oportunidades na vida. E a oportunidade ocorre apenas uma vez. E depois pode ser muito tarde para lamentar, ou, então, viver sem culpa...

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